O barulho de um comboio. Uma grade. Que é chão, respiradouro. É entre o aprisionamento e a evasão que esta história se vive. O balcão para além do qual não se pode passar. O comboio em círculos. O casamento imposto. As visitas condicionadas. A moral instituída. O amor convencionado. Com Carol e Therese olhamos pelo canto do olho, por trás de janelas, por entre flocos de neve, através de uma objectiva. Respiramos por entre as grades da vida. E cumprimos o desejo de evasão em viagem, onde o carro, cujos assentos recebem o espraiar e servem de aconchego, nos levar. Ainda que aquilo a que chamam casa ensombre o rosto e o destino. No caminho, apesar de e para além de, o amor encontra um meio (uma mão encontra um ombro, que encontra outra mão), para logo ser ameaçado com o fim. Mas há algo que nos chama e ao qual temos de atender. Umas luvas deixadas para trás. Um telefonema em suspenso. Uma carta recebida. Um vislumbre através da janela. Uma mão no ombro. Por isso, caminhamos, apesar de todas as ameaças e de todos os medos. Em câmara lenta, como na tv. Para um novo lugar, para uma nova viagem. Para casa.