31/01/2016

(Eu) Largo

Mar alto, camisola folgada, avenida espraiada, céu aberto, horizonte.
Lugar que não (se) contém, mas onde os outros confluem.
Soltar, deixar ir, deixar correr.
Não agarrar, não segurar, não reter.
(Desistir, não gosto de o dizer. Não insistir, outra maneira de ver.)
Não prender. E, por consequência, não perder.

24/01/2016

Curva e contra a mesma

Curva do joelho, contracurva cotovelo
Essa brisa-furação despenteia-me o cabelo
Zap no programa, olha o zip do vestido
Bang-bang coração por sussurrar-te ao ouvido
Rio da má sorte, menos maré que marinheiro
E mergulho de cabeça em poliban de chuveiro
Chapéu já se sabe só sai quando não cai pingo
E eu não acerto linha quanto mais cartão de bingo
Humor de perdição, amor meu de encontro ao peito
Faz ver só qualidades onde o outro acha defeito
Lentes de paixão, antes míope sempre fosse
Confesso o meu amor, era uma vez, já está, acabou-se

08/01/2016

Sinais

Fora do teatro, onde a vida se contou em sinais, está o que lhes dá origem. O homem que escolhe uma peça de roupa como quem procura uma vida nova que lhe sirva. Os tupperwares que se distribuem por quem tem fome mas não comida. O abrigo que se imprime no colete e se dá a céu aberto. A porta do edifício neoclássico que se transforma em baliza de penaltis de vida súbita. Os táxis que levam para casa quem a tem e para o hotel quem dela temporariamente folgou. Os grupos que saem de jantares bem regados desmoídos em direcção ao próximo copo. A árvore que anuncia um nascer a quem dorme pela existência ou morre um pouco todos os dias. A estrela no seu topo que parece arranhar o céu escuro monocromático da cidade. Os repuxos da fonte que lembram momentos de erupção e simultaneamente recordam que o que sobe tem de descer. E em baixo, no chão, este tapete português onde, não importa o que calçamos, todos andamos.