28/08/2014

Days of open hand

Abrir mão é tê-la aberta
Oferecer a palma ao mundo
Receber vida ao segundo
Ter caminho por destino
Ser pé, ponte, ser passagem
Deitar no leito da viagem

É devagar deixar correr
É ser corrente sem prender
Embalada em movimento
Deste fluxo fazer linha
Descobrir a sina minha
Escrita em páginas de carne

E se outra palma eu encontrar
Que ela possa aqui pousar
E se a ventura disser não
A sardinha pingue no pão

11/08/2014

Permanecer, na mudança

Li num artigo do José Tolentino Mendonça que "perseverança" é em grego "proskateresis", «um composto de duas palavras: "pros" (que significa "manter-se ainda" ou "ir além") e "karteria" (que significa "constância")». Lembrei-me daquela terra verde, em cascata, à beira-rios. Pequeno paraíso onde me apetece demorar. Lugar que descobri em périplo singular, como é a vida, e por onde caminhei acompanhada, como às vezes acontece nesta. Foi a terra que acolheu Camões, desterrado de Lisboa, por pecados de amor («Erros meus, má fortuna, amor ardente», «qual em nós mais frequente, cada vez mais frequente»). Quem a olha pode pensar que foi sempre assim. Mimosa, amena, acolhedora. Não adivinha que é frequentemente galgada pelo Tejo, que em dias normais a abraça calmamente. Nem que se chamava Punhete.