Fora do teatro, onde a vida se contou em sinais, está o que
lhes dá origem. O homem que escolhe uma peça de roupa como quem procura uma
vida nova que lhe sirva. Os tupperwares que se distribuem por quem tem fome mas
não comida. O abrigo que se imprime no colete e se dá a céu aberto. A porta do
edifício neoclássico que se transforma em baliza de penaltis de vida súbita. Os
táxis que levam para casa quem a tem e para o hotel quem dela temporariamente
folgou. Os grupos que saem de jantares bem regados desmoídos em direcção ao
próximo copo. A árvore que anuncia um nascer a quem dorme pela existência ou
morre um pouco todos os dias. A estrela no seu topo que parece arranhar o céu
escuro monocromático da cidade. Os repuxos da fonte que lembram momentos de
erupção e simultaneamente recordam que o que sobe tem de descer. E em baixo, no
chão, este tapete português onde, não importa o que calçamos, todos andamos.
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