06/09/2013

Para ser grande, sê inteiro


Eu era ainda uma miúda, mas já presa, cansada e cheia de medo. Ela era já grande, e provavelmente também presa, cansada e com medo, como, às vezes, todos nós, mas também disponível, sensível, intuitiva, sábia, generosa, poderosa…
A mim, nascida para cuidar, mostrou ser necessário amar-me e deixar-me amar, bem. Desarmadamente afectuosa, lá foi baixando as minhas defesas. Com paciência de Jó, caminhou ao meu lado, devagar, muito devagarinho. E bailou comigo as minhas coreografias de um passo à frente e dois atrás, num estrado feito de curiosas espirais, de oitava acima.
Pela estrada fora, fui descobrindo um património comum, natural, sobre o qual acrescentámos novas pedras. A ânsia de Marta com muitas coisas, quando só uma é necessária. A escolha de Maria pela boa parte. A ponte como passagem… ou miragem? O Assentamento de Chico. O Tempo de Ary. A Canção de Milton. O “Não tenhais medo”, de todos nós.
Hoje, já não sou uma miúda. Será? Mas sei que há sempre prisões, cansaços e medos, na peregrinação rumo à Cova da Iria, de cada um. Ela também. E sei que ela é grande, maior, enorme, gigante. E ela também.

2 comentários:

  1. Este amor - entre as Martas e as Marias que se encontram num tempo e espaço únicos - é enorme, incondicional e reciproco. Como temer o medo quando o caminho feito assim a par é pleno de sentido? Obrigada, Marta. Por me permitir ser grande.

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